quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

TODOS?

TODOS OS PORTUGUESES

Esta coisa de ser obrigatório que cada hipotético Presidente diga que será o Presidente de Todos os Portugueses é daquelas que erige o chavão em arma de arremesso indiscutível - dogma - sem sequer lhe medir o sentido. Como é que se pode ser Presidente de Todos os Portugueses? Isso significaria o quê?

- Que se é também o Presidente dos que corrompem e desviam o que é de todos para benefício privado?
- Que se é Presidente dos incendiários por interesse no negócio madeireiro?
- Que se é o Presidente dos projectos de eucaliptizar um país cujas paisagem são destruídas por esta monocultura assassina?
- Que se é Presidente dos patos bravos que destruíram e destroem os litorais do país com a sua obra de betão?
- Que se é Presidente dos banqueiros que fogem ao fisco e engordam e engordaram com o dinheiro público?
- Que se é o Presidente dos donos disto tudo ou dos ex-donos disto tudo ou dos futuros donos disto tudo?
- Que se é Presidente dos causadores das assimetrias?
- Que se é Presidente dos que promoveram as políticas da austeridade?
- Que se é Presidente dos para-troikistas e dos Migueis de Vasconcelos?
- Dos que têm espírito pidesco e estão aí porque esse mal não é erradicado, exterminado?
- Dos que traficam "carne humana"?
- Dos que.....

A lista poderia prolongar-se ilimitadamente, a pluralidade e diversidade tóxicas estão bem implantadas e são, em si, sinal da imperfeição extrema desta democracia, de um grau de amputação que a nega em coisas essenciais - é contra isso que um candidato democrata e progressista se propõe, é o seu programa, é ético.

Não, o Presidente de Todos os Portugueses é e será sempre o Presidente da enorme maioria dos portugueses que trabalham, que são sérios, que são vítimas dos poderes que os condenam a ter uma vida que não é a dos entre iguais e da democracia das oportunidades, dos que são marginalizados, dos desempregados, dos empregados pobres, dos pobres, dos remediados, da tal classe média cada vez menos média, de uma imensa maioria de todos nós que disseram ser 99%, para encontrar uma simbólica que se cola realmente à verdade - é daquelas estatísticas que, no essencial, não mente. É isso: é-se sério sendo o Presidente contra 1% dos Portugueses e de 99% deles, a tal imensa maioria que é descriminada negativamente. E é assim porque ter causas é ter posições e é estar a favor e por isso estar contra.

Uma outra coisa é dizer que se será Presidente do direito que Todos têm a defender-se e portanto de defender um verdadeiro Estado de Direito: isso tem outro significado. As generalizações são, infundadas, formas de demagogia e vazam-se em chavões que, atirados assim, à cara de cada um no meio da amalgama interminável e velocíssima de argumentos cegos que anda aí influenciam as opiniões dos eleitores de uma forma só emotiva-massiva, vulgar, colam posições sem que sejam elucidadas, radiografadas, compreendidas no fundamento. Há demagogia que se tem por coisa boa, é a que cavalga o dogma.

Outra coisa estúpida: a experiência do candidato. Não porque a experiência seja algo a desvalorizar, mas porque se assume, os média dominantes e a direita conservadora, que, experiência é história partidária e que fora dos partidos não há política como escola - alguns locutores esgrimem isto como arma, papagaiam o dono. Um tipo/a gere uma empresa, dirige uma escola, uma instituição, trabalha no turno da meia noite, conduz um comboio, um eléctrico, conhece o mundo, voou, estudou e trabalhou fora do país, fala russo, toca clarinete - há Presidentes músicos, é mau? - escreve, escalou o Everest, sabe nadar, trabalha 12 horas por dia no duro, foi mulher a dias, mãe, pai, educador, domina bem a língua e fala outras três, conhece bem o país, mesmo os bairros de lata e os aglomerados caóticos, todas as regiões, as aldeias, o interior e o litoral e faz mil e uma coisas quarenta anos de enfiada, ou mesmo sessenta e tal, e isso não é currículo para a Presidência? Então experiência é participar nas reuniões à porta fechada dos partidos? Isso será um tipo de experiência mas não a experiência mais indicada, tanto mais que, como é sabido, os partidos maiores e os de direita, são escolas de arrivismo e tráfico e influências.

Tenham juízo: a experiência hoje tem de se equivaler à daqueles que tiveram a ousadia das descobertas, que ajudaram a uma outra consciência e fizeram do empirismo uma grande escola, da tentativa e erro, da verificação, que passaram da cabotagem para o GPS da altura. Isso significa hoje estar por dentro da ciência mais sofisticada mas também da humanidade mais elementar e solidária, ética, aquela que ouve e ajuda com o seu sentido da justiça, da equidade e da fraternidade. E tem uuma ideia de futuro, um projecto para o País que não coincide com o BCE nem com o da actual Comissão, que não vê o país como contas públicas e orçamento - já o primeiro Sampaio dizia haver mais vida para além das contas.

Viva o António Sampaio da Nóvoa. Haja alegria, como diria o arlequim que há em muitos de nós.

fernando mora ramos

1 comentário:

  1. Nem mais. O mais curioso nesta ambição totalitária é que ela traduz uma apropriação do religioso para o discurso político , utilizando a ideia de que, independentemente daquilo que somos ou fazemos somos todos filhos de deus. No entanto há uma outra linha de argumentação contra o argumento do Marcelo a que também sou especialmente sensível: a ideia de que este tempo novo em que as pessoas falam, são pragmáticas para defender o essencial, trazendo comunistas para a prática política, é um tempo ilegítimo, é o argumento ressabiado de uma direita que perdeu o poder sem perceber porquê. Ou seja, Marcelo é que usa uma retórica excludente..

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